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Jul 11

Obrigado

 

Obrigado porque tiveste na tua vida um lugar para a minha vida, renunciando a tantas coisas boas que poderias ter saboreado. Porque – mais do que isso – fizeste da tua vida um lugar para a minha. E de muitas maneiras morreste para que eu pudesse viver.
 Porque não eras corajosa, mas tiveste a coragem de embarcar numa aventura que sabias não ter retorno.
 Porque não fizeste as contas para avaliar se a minha chegada era conveniente: abriste simplesmente os braços quando eu vim.
 Porque não só me aceitaste como era, como estavas disposta a aceitar-me fosse eu como fosse. Porque dirias “o meu filhinho” mesmo que eu tivesse nascido deformado e me contarias histórias ainda que eu tivesse nascido sem orelhas. E me levarias ao colo mesmo que eu fosse leproso. E, mesmo com tudo isso, me mostrarias com orgulho às tuas amigas. Porque seria sempre o teu bebé lindo.
 Devo-te isso, embora não tenha acontecido, porque o farias.
 Obrigado porque não tiveste tempo para visitar as capitais da Europa. Porque as tuas amigas usavam um perfume de melhor qualidade que o teu. Porque, sendo mulher, chegaste a esquecer-te de que havia a moda.
 Porque não te deixei dormir e estavas sorridente no dia seguinte. Porque foste muitas vezes trabalhar com manchas de leite na blusa. Porque me sossegaste dizendo “não chores, filho, que a mãe está aqui”, e estar no teu regaço era tão seguro como dormir na palma da mão de Deus.
 Obrigado porque é pensando em ti que posso entender Deus.
 Obrigado porque não tiveste vergonha de mim quando eu fazia birras nos museus, ou me enfiava debaixo da mesa do restaurante porque queria comer um gelado antes da refeição. E porque suportaste que eu, na adolescência, tivesse vergonha de que os meus amigos me vissem contigo na rua.
 Obrigado porque fizeste de costureira e aprendeste a fazer bolos. Porque fizeste roupas e máscaras para as festas da escola. Porque passaste uma boa parte dos fins de semana a ver jogos de rugby ou de futebol para que – quando eu perguntasse “viste-me, mãe, viste-me?” – pudesses responder com sinceridade e orgulho “é claro que te vi!”.
 Obrigado por o teu coração ser do tamanho de me teres dado irmãos. Como eu seria pobre se não os tivesse!
 Obrigado pelas lágrimas que choraste e nunca cheguei a saber que choraste.
 Obrigado porque me ralhaste quando me portei mal nas lojas, quando bati os pés com teimosia, quando “roubei” batatas fritas antes de o jantar estar servido, quando atirei a roupa suja para um canto do quarto. Obrigado por me teres mandado para a escola quando não me apetecia e inventava desculpas. E por me teres mandado fazer tarefas da casa que tu farias bem melhor e muito mais depressa.
 Obrigado por teres mantido a calma quando eu num dia de chuva fui consertar a bicicleta para a cozinha, ou quando arranjei uma namorada de cabelo verde…
 Obrigado por teres querido conhecer os meus amigos, e por todas as vezes que não me deixaste sair à noite sem saberes muito bem com quem ia e onde ia.
 Obrigado porque eu cresci e o teu coração parece ter também crescido. Porque me deste coragem. Porque aprovaste as minhas escolhas, e te mantiveste a meu lado apesar de ter passado a haver a distância. Porque levantas a cabeça – mesmo sabendo que eu estou muito longe – quando vais na rua e ouves alguém da multidão chamar: “mãe!”.
 Obrigado por guardares como tesouros os desenhos que fiz para ti na escola quando era, como hoje, o Dia da Mãe. E por ficares à janela a ver partir o carro, quando me vou embora, comovendo-te com os meus sinais de luzes.
 Obrigado – já agora… – por não teres esquecido quais são os meus pratos favoritos; por o sótão da tua casa poder ser uma extensão do sótão da minha casa; por teres ainda no mesmo lugar a lata dos biscoitos…
 
Paulo Geraldo

publicado por Chicailheu às 23:47
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